O desejo de empreender está fortemente presente no imaginário da população brasileira. De acordo com um estudo recente do Sebrae, seis em cada dez brasileiros veem a ideia de abrir o próprio negócio como um de seus três maiores sonhos. Seja pela busca por maior autonomia, pela identificação de oportunidades de mercado, ou mesmo por necessidade, o empreendedorismo desperta muitas questões. Uma das principais dúvidas enfrentadas por novos empreendedores é se vale mais a pena começar um negócio próprio ou optar pela abertura de uma franquia.
Nos últimos anos, o modelo de franquias tem ganhado destaque entre empreendedores iniciantes, em parte devido à maior segurança percebida ao se associar a uma marca consolidada. Não à toa, o mercado de franquias no Brasil registrou um crescimento significativo de 19% no primeiro trimestre de 2024, com um faturamento acumulado superior a R$ 60,5 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Esses números refletem a força do setor e indicam que investir em uma franquia pode ser uma boa alternativa para quem deseja empreender com menor risco.
Mas, afinal, em que situações abrir uma unidade franqueada pode ser mais vantajoso do que criar um negócio do zero? Para tomar essa decisão, é essencial entender as diferenças fundamentais entre os dois modelos. As franquias oferecem ao empreendedor a oportunidade de operar sob o nome de uma marca já estabelecida no mercado. Nesse modelo, o franqueado segue diretrizes e padrões pré-definidos pela franqueadora, garantindo uma uniformidade na prestação de serviços ou na venda de produtos.
Em contrapartida, o empreendedor paga taxas de franquia e royalties pelo uso da marca e pelo suporte oferecido pela rede. Por outro lado, iniciar um negócio próprio proporciona total autonomia ao empreendedor, que tem liberdade para criar sua identidade de marca e operar conforme suas próprias estratégias. Entretanto, essa independência também implica assumir sozinho todos os riscos e responsabilidades pela operação e desenvolvimento do negócio.
Dessa forma, optar por um negócio próprio ou por uma franquia envolve diferentes níveis de liberdade, risco e suporte, fatores que devem ser cuidadosamente analisados antes da tomada de decisão. Esta decisão de se tornar um franqueado envolve uma série de considerações importantes, conforme destaca Adriana Auriemo, vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Segundo ela, a escolha deve ser baseada no entendimento prévio do mercado de franquias e das responsabilidades que essa modalidade impõe.
Além disso, é fundamental que o empreendedor tenha um bom conhecimento do segmento em que pretende atuar. “O ideal é realizar pesquisas de mercado, visitas técnicas e até conversar com potenciais consumidores na região de interesse,” sugere Adriana. Ela também enfatiza a importância de estudar a fundo a rede franqueadora. Um dos documentos mais relevantes é a Circular de Oferta de Franquia (COF), que contém informações obrigatórias conforme a legislação. “Observar se a rede é associada à ABF e possui o Selo de Excelência em Franchising também é um ponto positivo que pode auxiliar na avaliação,” explica a executiva.
Adriana aconselha ainda que potenciais franqueados busquem conversar com atuais e ex-franqueados, a fim de entender melhor a dinâmica diária da operação e os desafios enfrentados no dia a dia. Outro aspecto crucial é a análise do capital disponível, tanto para o investimento inicial quanto para a manutenção da franquia a longo prazo. As franquias podem ter custos mais elevados, especialmente devido às taxas de royalties e às exigências de manutenção da qualidade, que frequentemente envolvem padrões específicos de equipamentos e infraestrutura.
Para empreendedores de primeira viagem, optar por uma franquia oferece o benefício de adquirir o know-how da operação do negócio. Muitas redes franqueadoras disponibilizam manuais detalhados e treinamentos para novos franqueados, assegurando que todos sigam um padrão de execução e atendimento. Além disso, a franqueadora é responsável por fornecer suporte contínuo ao longo da parceria. “O principal benefício de uma franquia é que ela já traz um modelo de negócio testado e formatado. Isso permite que o franqueado entre em um projeto que já foi planejado e experimentado em outros mercados, fornecendo uma base sólida para sua atuação,” afirma Adriana.
Por outro lado, ao ingressar em uma franquia, o empreendedor deve estar preparado para seguir os padrões e diretrizes estabelecidos pela rede, o que inclui prestação de contas e limitação de autonomia em determinadas decisões. “Embora os franqueados possam participar e sugerir ideias, é necessário seguir o modelo estabelecido pela franquia. No negócio próprio, há mais liberdade, mas essa autonomia também traz mais riscos e a ausência de suporte no início,” explica a vice-presidente da ABF.
Essa falta de flexibilidade e inovação é uma das razões que levam alguns empreendedores a preferirem abrir um negócio independente, onde podem exercer mais controle. No entanto, a expansão do mercado de franquias e a diversidade de modelos oferecidos têm atraído muitos interessados. Hoje, além de lojas físicas tradicionais, há franquias home-based, operadas de casa, sem funcionários, que representam um custo menor de investimento.
Além das pesquisas de mercado, concorrentes e custos, Adriana destaca que o conhecimento em gestão de negócios é fundamental para o sucesso de um franqueado. “O setor de franquias é vasto e flexível, mas o empreendedor precisa estar ciente de que deixará de ser empregado para se tornar empresário. Isso requer preparação em áreas como estratégia de negócios, gestão de pessoas, finanças e marketing.” Para quem já decidiu ingressar no mercado de franquias, Adriana aponta algumas tendências importantes, como a multicanalidade, a digitalização dos processos e do atendimento ao cliente, a expansão das franquias de serviços e a crescente adoção de práticas de ESG (ambientais, sociais e de governança).
Em resumo, a escolha entre abrir uma franquia ou um negócio próprio depende de vários fatores, como o perfil do empreendedor, seu capital disponível e o nível de autonomia desejado. Enquanto as franquias oferecem um modelo de negócio testado, suporte contínuo e menor risco, o empreendedor deve estar preparado para seguir as diretrizes da rede e lidar com a limitação de liberdade criativa. Por outro lado, um negócio próprio oferece mais flexibilidade e controle, mas também exige um maior planejamento e disposição para assumir riscos. Independentemente da escolha, o sucesso estará diretamente ligado ao conhecimento de mercado, à gestão eficiente e à capacidade de adaptação às tendências, fatores cruciais para se destacar em um cenário empresarial competitivo e em constante evolução.