Há apenas alguns anos, ser um “influenciador digital” não era visto como uma carreira de verdade. Muitos questionavam a legitimidade desse trabalho, especialmente as gerações mais velhas, que viam essa atividade como uma forma de entretenimento fútil, sem futuro financeiro sólido. No entanto, o cenário mudou drasticamente, e os influenciadores passaram de criadores de conteúdo desacreditados a empreendedores poderosos, construindo verdadeiros impérios nas redes sociais.
Um exemplo emblemático dessa transformação é o de Homan, que hoje lidera uma equipe e administra uma empresa de sucesso a partir da sua influência online, especializada em cabelos cacheados. Homan, que enfrentou ceticismo desde o início, lembra-se de quando contou a amigos e familiares sobre seu plano de se dedicar integralmente ao mundo digital. “Ninguém sabia o que isso significava”, relata. Sua mãe, como muitos outros, se preocupava com a exposição da vida pessoal e duvidava que fosse possível ganhar dinheiro dessa maneira. Porém, ao longo dos anos, Homan provou o contrário.
Depois de identificar um nicho de mercado e crescer nas plataformas digitais, ela não apenas fez carreira, mas também lançou sua própria linha de acessórios e transformou sua presença online em um negócio rentável. A indústria de marketing de influenciadores, antes desacreditada, agora é uma das mais lucrativas. Estima-se que o setor tenha movimentado US$ 21,1 bilhões em 2023, segundo o Influencer Marketing Hub.
Grandes marcas, que antes investiam exclusivamente em publicidade tradicional, agora destinam uma parte significativa de seus orçamentos para parcerias com criadores de conteúdo. E essa mudança de paradigma reflete uma transformação mais ampla na maneira como consumidores, principalmente os mais jovens, consomem informação e confiam em recomendações.
Anna Stella, professora de marketing da Universidade de Strathclyde, explica que os consumidores estão cada vez mais céticos em relação à publicidade tradicional. “O público jovem desconfia de anúncios convencionais e de campanhas massivas, enquanto vê nos influenciadores digitais uma voz mais autêntica”, afirma. E é justamente essa percepção de autenticidade que faz com que o marketing de influenciadores tenha tanto impacto.
A conexão direta entre o criador e o seguidor gera uma confiança que campanhas publicitárias tradicionais, muitas vezes, não conseguem replicar. A transição do desprezo à aceitação do trabalho de influenciadores se reflete também nas oportunidades de emprego que surgem dentro desse mercado. Algumas empresas, como a Mattel e a Slice, já contratam influenciadores como funcionários fixos. Essas marcas reconhecem que as audiências preferem conteúdos mais naturais e rejeitam campanhas excessivamente polidas. “Propagandas grandiosas não atraem mais”, comentou o CEO da Slice ao Business Insider em 2023.
Vickie Segar, fundadora da agência Village Marketing, sediada em Nova York, observa essa evolução há anos. “Por muito tempo, os influenciadores foram vistos como pessoas que promovem marcas sem critério. Mas hoje está claro que eles controlam o processo”, destaca. Segundo Segar, os criadores de conteúdo são multitarefas: atuam como diretores criativos, editores, líderes de comunidade e especialistas em vendas, tudo ao mesmo tempo.
Eles substituem as grandes equipes de produção e conseguem manter a atenção do público, algo valioso no cenário atual. Mesmo assim, o estigma em torno da carreira de influenciador ainda persiste, especialmente por parte das gerações mais velhas. A resistência pode ter a ver com questões de gênero e idade, conforme Segar aponta: “Esta é uma indústria dominada por mulheres jovens, e as mulheres, historicamente, são desacreditadas nos negócios”. A desconfiança também é alimentada por problemas como a compra de seguidores falsos, prática que prejudica a reputação de influenciadores e levanta dúvidas sobre a autenticidade de sua base de fãs.
Ainda assim, influenciadores de sucesso, como Homan, encontram maneiras de superar esses desafios e construir carreiras estáveis e diversificadas. O futuro da criação de conteúdo passa por empreender de forma multifacetada, aproveitando a audiência para criar negócios próprios. A britânica Grace Beverley, por exemplo, saiu do mundo fitness no Instagram e criou uma marca de roupas sustentáveis que gerou mais de 6 milhões de libras em seu primeiro ano.
Da mesma forma, influenciadores como Zoe Sugg, que começou no YouTube, agora diversificam seus ganhos com livros, produtos de beleza e decoração.Para muitos influenciadores, garantir uma carreira de longo prazo exige ir além das redes sociais. Ao lançar produtos próprios ou criar negócios independentes, esses profissionais constroem uma marca pessoal que pode transcender as plataformas digitais. E isso é crucial em um ambiente onde as tendências mudam rapidamente e o destino das redes sociais é incerto. O encerramento do Vine em 2017, por exemplo, foi um alerta para muitos criadores que perderam sua principal fonte de renda do dia para a noite.
Homan, assim como muitos influenciadores que entenderam a importância de se diversificar, afirma que sua prioridade é garantir independência financeira e controle criativo. “Meu objetivo é não depender exclusivamente de campanhas com marcas. Quero que minha empresa cresça por si só, atingindo sete dígitos de faturamento”, diz. Com o mercado de influenciadores projetado para alcançar US$ 143 bilhões até 2030, a possibilidade de sucesso é real — para aqueles que tratam a criação de conteúdo como o negócio sério que ele realmente é.