Há alguns anos, o argentino Hernán Regiardo chegou aos Estados Unidos com apenas US$ 300 (equivalente a R$ 1.650 na cotação atual) e um grande sonho: se tornar fotógrafo profissional. No entanto, ele não poderia prever que esse desejo seria realizado ao lado de Samantha Trottier, uma programadora norte-americana que ele conheceria em Bali, Indonésia, em 2020, um mês antes do início da pandemia de COVID-19. Essa história de sucesso teve início em julho de 2021, quando a Argentina venceu a Copa América.
Um vídeo viral de Regiardo, então com 34 anos, gritando emocionado em frente à TV ao lado de Samantha, de 26 anos, surpreendida pela paixão do companheiro, acumulou mais de 2 milhões de visualizações em apenas um dia. “Foi um acidente”, admite Regiardo, rindo ao lembrar. A partir desse momento, o casal encontrou um nicho ao criar conteúdo baseado em suas diferenças culturais e nos esforços de Samantha para aprender espanhol e se adaptar à cultura argentina. “Fomos os primeiros a explorar isso na Argentina quando o TikTok começou a explodir”, afirma Regiardo.
Outro grande sucesso viral foi o vídeo do casamento do casal, em 2023. Nos comentários, uma seguidora disse: “Sinto que estou assistindo ao casamento de um familiar”. Essa conexão com o público se deve, segundo eles, à autenticidade. “Somos de cidades pequenas: eu sou de Arequito, com 7 mil habitantes, e Samantha é de uma área rural de Dakota do Norte”, explica Regiardo. “Isso cria uma sensação de familiaridade.” Samantha acrescenta: “Nós transmitimos que somos reais, e as pessoas se identificam com isso.” Antes de mergulharem no mercado de erva-mate, o casal já havia iniciado um caminho empreendedor.
Em 2021, usando o número de seguro social de Samantha e o talento fotográfico de Hernán, fundaram a agência criativa Mate Society, que atualmente produz conteúdo para mais de 100 marcas, incluindo gigantes como Nestlé, P&G e Oreo. A ideia de criar uma marca própria surgiu em 2022. “Criávamos conteúdo para marcas de supermercado e pensamos: ‘Podemos fazer isso também!'”, conta Samantha. Como grandes consumidores de mate, decidiram começar por aí.
O processo de empreender na Argentina, no entanto, mostrou-se muito mais demorado que nos Estados Unidos. “Levaram seis meses para abrir uma empresa na Argentina, enquanto nos EUA foi tudo feito em três semanas”, comenta Regiardo. Entretanto, o custo inicial nos Estados Unidos é bem mais elevado. “Abrir uma marca lá é de cinco a dez vezes mais caro”, destaca Samantha. Para desenvolver seu produto, o casal enviou mais de 50 e-mails para produtores de erva-mate. Sem ter fornecedores iniciais, viajaram até Misiones, a principal região produtora de mate na Argentina.
Quando Samantha anunciou o projeto no Instagram, já no primeiro dia atraíram 10 mil seguidores. O investimento inicial foi de US$ 50 mil (R$ 275 mil), e a produção começou em fevereiro de 2023. O primeiro lote, com cerca de 10 mil pacotes, esgotou-se em uma semana. No mês seguinte, um segundo lote foi vendido em apenas dois dias. A parceria com a rede de supermercados Coto consolidou o sucesso da marca: “Vendemos todo o estoque em duas semanas”, comemora Samantha.
Em agosto de 2023, o casal já havia comercializado cerca de 100 mil quilos de erva-mate e expandido sua presença para mais de 200 lojas na Argentina. Além do marketing digital orgânico, eles se orgulham de sua abordagem “bootstrap”, onde fazem o máximo de tarefas por conta própria. “Projetamos o site, cuidamos do marketing e mantemos a operação bem enxuta”, afirma Samantha. A empresa é gerida por quatro pessoas: Hernán, Samantha, uma secretária e um gerente de comunidade, e sua “oficina” funciona através do WhatsApp.
Com foco no futuro, Samantha e Hernán planejam expandir a distribuição nacional do Cósmico e, em 2025, começar a exportar para os Estados Unidos, Espanha e países vizinhos como Uruguai e Chile. Além disso, o casal pretende diversificar seus produtos no setor de supermercados, desenvolvendo novos itens, como o croissant argentino conhecido como medialuna. A longo prazo, Samantha também expressa o desejo de criar livros infantis, em conjunto com seu plano de formar uma família.
Apesar das dificuldades e críticas, o casal se mantém firme em sua estratégia de reinvestir todos os lucros no crescimento da marca. “Sempre quisemos manter o controle total da nossa empresa”, explica Samantha. Com essa abordagem independente, eles vislumbram um futuro promissor, apostando na inovação, na autenticidade e na paixão pelo que fazem. “Enquanto muitos estão saindo da Argentina, nós escolhemos o caminho contrário e estamos investindo aqui”, conclui Regiardo. Com vendas crescentes e uma marca que conquista cada vez mais espaço, o casal já provou que transformar um sonho de US$ 300 em uma empresa internacional é mais do que possível – é uma realidade.